13 fevereiro 2009

A Grande Fuga (Parte 1)

Eu e Eduardo fomos obrigados a replanejar a viagem. Não estava previsto pararmos em Colón, e sim em Mercedes. Mas, àquela altura, se fôssemos para Mercedes íamos acabar saindo muito da rota para Foz do Iguaçu, por isso procuramos um outro roteiro. Durante o café da manhã consultamos o mapa e concluímos que o melhor destino seria Posadas, na província de Misiones.

Arrumamos as malas mais uma vez e fomos para a estrada. Não sem antes parar para umas fotos. Colón é um “balneário” que fica às margens do Rio Uruguai. É um tipo de praia para os argentinos.



Fomos até a saída da cidade e voltamos à Ruta 14. A estrada estava em obras em vários trechos e a poeira espalhada no ar incomodava bastante. E ainda por cima fomos parados pela Policia Caminera várias vezes no caminho. Eles pediam a nossa documentação, mas quando viam que estava tudo certo nos deixavam passar. Cheguei a pensar que o seguro Carta Verde, obrigatório para quem quer viajar pelo Mercosul, seria inútil, mas ele foi solicitado pelas autoridades rodoviárias todas as vezes que nos pararam. Pelo menos não inventaram que estávamos acima do limite de velocidade. Nós nos sentimos como se estivéssemos em um daqueles filmes onde os protagonistas precisam cruzar a fronteira com algum país vizinho para poderem escapar da polícia.

Paramos em um restaurante na beira da estrada para almoçar. Eduardo ainda não sabia nada sobre os cardápios em espanhol. Eu pedi um bife de chorizo, que nada mais é que uma posta grossa de contrafilé, acompanhado de purê de batata. Eduardo disse que queria o mesmo, mas não fazia a menor idéia do que eu tinha pedido. Quando veio o prato ele torceu o nariz, mas não tinha jeito, tinha que encarar o churrasco argentino mais uma vez ou ia ficar sem comer até chegarmos em Posadas.

A dona do estabelecimento se encantou quando dissemos que somos brasileiros viajando pelo país dela em duas motocicletas. Ela disse que conhecia o Brasil e que tem parentes vivendo em São Paulo. Nos falou sobre alguns dos lugares que ela visitou na cidade da garoa e disse que tem vontade de voltar.

Na hora de pagar a conta nos lembramos que o nosso dinheiro estava debaixo das palmilhas dos sapatos. Expliquei para a dona do restaurante e tirei a quantia necessária para pagar a conta. Ela riu e nos perguntou o motivo de tanta segurança. Contei a ela o que tinha acontecido conosco e a polícia de Entre Ríos. Ela ficou indignada e disse que a polícia de Entre Ríos é a vergonha nacional, a mais corrupta de toda a Argentina. Nos disse que devemos endurecer mediante tentativa de extorsão por parte deles e que, se ameaçassem nos prender, que nos prendam, mas que dissésemos a eles que íamos ligar para a embaixada brasileira solicitando um advogado que nos pudesse dar auxílio. Agradecemos as dicas e deixamos o restaurante.

De volta à estrada, uma coisa que vem me chamando a atenção desde muitos quilômetros atrás. Por toda a Ruta 14 existem placas com protestos sobre as Ilhas Malvinas. É uma perda que realmente mexe com os corações dos argentinos.



A polícia continuou nos parando no caminho, mas só nos pediam documentação. Nossa e dos veículos. Chegamos à conclusão de que eles iam nos parar sempre, não importa se tivéssemos cometido ou não alguma infração de trânsito.

Em determinado ponto da estrada acabamos entrando no lugar errado e caímos na Ruta 119. A estrada mudou bruscamente, caindo a qualidade do asfalto, quase sem sinalização e totalmente sem acostamento. Eduardo achou estranho e, depois de uns 10 km, resolvemos parar para consultar o mapa. Concluímos que devíamos voltar, pois a Ruta 14 mudava de direção em 90° e nós tínhamos seguido em linha reta. Quando chegamos ao ponto de convergência, pedi informação para um policial que estava por ali. Ele me indicou o caminho para Posadas, mas não perdeu a oportunidade e mandou uma em portunhol: “non tem um trocado de Brasil para el policia argentino?” Só faltava essa! Policial argentino pedindo esmola! Ninguém merece.



Pegamos mais um longo trecho sem encontrar postos de combustível. Eduardo passou a andar mais devagar para tentar economizar combustível. A Lander dele já estava na reserva e eu estava pensando no que fazer em caso de pane seca. Desta vez não tinha casas por perto, como na estrada para o Chuí, portanto não tinha como tentar comprar gasolina de alguém que tivesse carro. O jeito era pedir auxílio de algum motorista ou eu me aventurar sozinho até o próximo posto. O problema era que já estava começando a anoitecer e não podíamos nos separar.

Estávamos mesmo com sorte. Faltando apenas alguns litros para o combustível dele se exaurir por completo, encontramos um posto salvador. Aliás, o posto tinha uma fila de automóveis bem grandinha. Eram motoristas que iam dirigir no sentido oposto ao nosso e sabiam que aquele posto era a última chance de abastecerem. Bom sinal. Posto com alta rotatividade significa que não tem gasolina velha.

Chegamos em Posadas já durante a noite e fomos procurar o hostel. Muitas ruas lá não são asfaltadas. Rodamos por um tempo pedindo informações até que um motociclista local se dispôs a nos levar para o La Aventura Hostel. Nós só tivemos que segui-lo. E como não podia deixar de ser, ele nos fez várias perguntas sobre as motos.

Enfim, estávamos alojados. Precisávamos dormir bem para, no dia seguinte, entrarmos no Brasil e ficarmos tranquilos. A polícia nos estressava muito e acabava com o prazer da viagem.

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