14 fevereiro 2009

A Grande Fuga (Parte 2)

Mais um dia tentando passar pela polícia sem sermos pegos, mas era uma tarefa quase impossível. Como sempre fazemos antes de pegar a estrada, fomos até o posto mais próximo para abastecer e calibrar os pneus, além de passar graxa nas correntes.

Pedimos informação sobre qual caminho tomar para Puerto Iguazú, cidade argentina fronteiriça com a brasileira Foz do Iguaçu, e nos indicaram a Ruta 12.

Assim que saímos do posto vimos uma viatura da Policia Caminera da província de Misiones passar em sentido contrário. Alguns metros depois Eduardo me fez sinal apontando para o retrovisor. Quando olhei, vi que eles tinham feito o retorno para nos perseguir. Que saco! Eu não aguentava mais ter que ficar dando satisfações aos oficiais argentinos. Tudo bem que esse era o trabalho deles, mas precisavam ser tão chatos?

Ter uma moto esportiva em um país onde ela não é conhecida também tem suas desvantagens. Aparentemente eles só resolveram nos seguir porque me viram passar com o corpo deitado sobre o tanque. A polícia rodoviária de lá não tem medidores de velocidade à sua disposição e descobrem a sua velocidade na base do “olhômetro” mesmo. Por causa disso, eles não têm como provar que alguém estava acima do limite de velocidade, porém, em contrapartida, a palavra do policial vale como prova em um tribunal, o que abre larga margem para a corrupção e extorsão por parte deles. Ainda assim eu tinha esperança de que eles só queriam mesmo era voltar para o lugar de onde vieram, por isso fizeram o retorno. Doce ilusão. Deixamos eles passarem e, assim que emparelharam conosco, nos mandaram encostar.

Como já sabíamos o que eles iam nos pedir, pegamos logo os nossos documentos afim de apresentar a eles. Vai ver que eles só queriam checar como fizeram alguns policiais ontem. Que nada, acho que estou sendo otimista demais. Eles alegaram mais uma vez que estávamos acima do limite de velocidade. Eu disse que não, que estávamos a 80 km/h, pois essa era a velocidade da via. O cara respondeu que havia uma placa que dizia 80 km/h, mas a 50 metros antes dessa tinha uma que dizia 60 km/h. Eles inventam de tudo para dar base às afirmações deles. Mas não caí na conversa deles. Eu sabia que estávamos dentro do limite de velocidade e disse que estávamos a 60 km/h até a placa de 80 km/h, quando aumentamos um pouco, mas não tinha conversa. O policial estava determinado a nos multar.

Ele disse que a multa tinha que ser paga no Tribunal de Faltas mas, como era sábado e o tribunal estava fechado, as motos seriam apreendidas até segunda-feira. Isso se pagássemos a tal multa. Era uma situação que não podíamos aceitar. Nós não estávamos acima do limite de velocidade, era uma multa injusta. Nesse momento Eduardo chamou a atenção para os carros que passavam em velocidade claramente superior a 100 km/h e perguntou por que eles não paravam os outros carros. Estava na cara que nos pararam só porque viram que as placas eram do Brasil. Queriam dar o golpe em nós dois. Aliás, nem demorou muito para ele nos dizer que a multa era de aproximadamente 1 200 pesos e a única solução seria apreender as motos, nós seguiríamos de ônibus para o Brasil e voltaríamos na segunda-feira para acertar as contas no Tribunal de Faltas, retirando as motos. Ou então dormiríamos em algum hotel ou pousada por lá mesmo. Porém, se concordássemos em pagar uma “comissão” de 50% eles nos liberariam. Fingi que não entendi e questionei como pagaríamos a tal comissão se o tribunal estava fechado. Ele não gostou muito da minha resposta, então nos ordenou a seguir a viatura até o posto policial que havia na entrada da cidade de Posadas e foi saindo com os nossos documentos. Era a garantia de que íamos segui-los. Eu disse que eles não podiam reter os nossos documentos. Se fosse assim, seríamos obrigados a entrar em contato com a embaixada brasileira e ver como resolver esse problema. Na mesma hora ele voltou e disse que não ia reter os nossos documentos. Mas, antes de nos devolver, passou para o colega dele que anotou os nossos nomes e falou alguma coisa no rádio enquanto lia os nossos dados. Resolveram nos liberar, mas fiquei pensando o que será que o outro policial teria falado pelo rádio.

A estratégia de ameaçar chamar a embaixada funciona mesmo, mas fica aí a dica: se você for viajar para a Argentina, leve o número de algum telefone da embaixada só para o caso de algum policial corrupto te prender de verdade. Nós não tínhamos o número e se nos prendessem estaríamos em apuros.

Provavelmente o outro policial se comunicou com alguma outra viatura mais à frente e deve ter mandado ficarem de olho em nós. Por isso passamos a andar mais atentos. Aqueles caras tinham tirado toda a diversão da viagem. Em vez de olharmos as lindas paisagens das estradas argentinas, tínhamos que ficar de olho nas barreiras policiais -- que não eram poucas! Toda vez que víamos uma, ficávamos tensos. Às vezes nos deixavam passar, mas em outras nos paravam e pediam documentos nos deixando seguir após verificação.

A fronteira da Argentina com o Brasil estava a pouco mais de 300 km de Posadas e não víamos a hora de cruzá-la. Paramos em um posto para beber água e, coincidência ou não, uma viatura também parou lá. Esperamos até que fossem embora para seguirmos viagem.

Estávamos em contagem regressiva da quilometragem que faltava. Não suportávamos mais ter que ficar dando satisfações à polícia. Precisávamos atravessar a fronteira o quanto antes. Quando faltava apenas 20 km, passamos pela última barreira. Parecia que iam nos deixar passar numa boa, pois não faziam menção de que iriam nos parar. Quando cheguei a uns 5 metros deles, um dos policiais pulou na minha frente apontando para o acostamento com as duas mãos. Achei aquilo totalmente inusitado e Eduardo não se conteve e começou a rir. Foi a nossa salvação. Quando eu estava me preparando para sair da moto, vi que o policial também estava rindo com Eduardo e nos mandou seguir.

Chegamos ao entroncamento final. Para a esquerda estava o Brasil. Para a direita, o Parque Nacional Iguazú. Resolvemos dar uma conferida no parque, já que estávamos do lado argentino da fronteira, mas, ao chegarmos, descobrimos que o parque já estava fechando. Seu horário de funcionamento é até as 17h e chegamos em cima da hora. Pelo menos tiramos algumas fotos da entrada.



Saímos do parque e fomos em direção à Ponte Tancredo Neves, que liga a Argentina ao Brasil. Passamos pela aduana argentina para dar baixa nos documentos de entrada e fomos em frente felizes da vida. Finalmente estávamos de volta. Alô, Brasil, pátria amada, mãe gentil! Tchau, Argentina! Não sei se é um adeus ou um até logo, mas não chore por mim!



Chegando no hostel Paudimar Campestre, em Foz do Iguaçu, deixamos as bagagens no quarto e fomos comemorar tomando uma cerveja gelada e comendo um bom prato de feijão com arroz, frango e salada na beira da piscina.



Aliás, esse foi o hostel de melhor estrutura que passamos. Piscina, churrasqueira, salão de jogos, camping, restaurante e até um campo de futebol com grama natural. Óbvio que jogamos uma partida. Juntamos os brasileiros que estavam por lá e fomos jogar contra os gringos, que tinha o time formado por franceses e ingleses. Demos uma goleada de 4 a 1. Bom para descontrair depois de um dia tão tenso.



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